sábado, 1 de maio de 2010

A Flor

Estava bebado demais para saber onde se encontrava naquele momento.
Tinha saido de perto dos amigos havia um bom tempo,depois das doses de vodka e de algumas garrafas de cerveja.Bebera demais para alguém que sequer gostava de alcool.
Olhou para trás e vio algumas luzes, talvez o bar em que estivera a alguns minutos atrás.A cidade estava vazia,graças ao feriado, todos provavelmente estavam viajando.Era um cruzamento, e ele resolveu virar para a direita: de longe, com o pouco de noção que sobrara, ele via uma pracinha pequena com alguns bancos, árvores e no centro um pequeno coreto cercado de estatuetas de anjos possuindo instrumentos músicais nas mãos.
No chão a quantidade de folhas era incontável, era outono e as folhas amarelas e alaranjadas caiam excessivamente.Sentou-se em um banco abaixo da maior árvore que ali havia após limpá-lo com as mãos,tentando se sentir protegido talvez.Estava frio , humido e escuro; a maioria dos postes de luz estavam quebrados.Sentia suas mãos congelarem e o ar gélido no seu rosto, mas não ligava pois ele também se sentia frio por dentro.
Levou a mão ao bolso e tirou um maço de cigarros pretos juntamente com um isqueiro prata onde se via um cavalo desenhado.Meio sem jeito pelas mãos geladas, ele acendeu.
Olhava ao longe sem saber para o que exatamente;no céu se via poucas estrelas,as nuvens provavelmente tampavam a maioria, talvez iria chover.Tentava não pensar em nada, mas quanto mais tentava não pensar, mas lembrava.Sua embriaguez estava passando e ele desejava ter trago consigo uma garrafa de cerveja.
Jogou a cabeça para trás e fechou os olhos; odiava aquelas memórias que não saiam de sua cabeça quando estava são.Talvez por isso nos ultimos 5 meses ele bebia mais do que respirava, era a unica maneira de se livrar daquelas lembranças infelizes.Ou talvez felizes demais, por isso ainda o visitavam com tanta frequencia no presente.
- Vamos amor, hoje vou te levar para um lugar especial.
- Para onde?
- Shii, não estraga a surpresa.
- Ah me conta vai.
- Você vai ver, não seja teimoso.
Era uma praça parecida com aquela a surpresa dela naquele dia, até os anjos em volta se pareciam com aqueles da praça visitada a muito tempo atrás, ou eram as árvores? Não,era primavera quando haviam visitado a praça e as flores não estavam no chão, e sim nos galhos, e ele tentava pegar uma para ela.
- Quero aquela ali.
- Mas você gosta de me dar trabalho heim?
Quem dera se o unico trabalho que ela me desse fosse esse; pegar uma flor no alto de uma árvore.Sorriu com esse pensamento besta e levou o cigarro a boca, outra tragada,e mais uma.Começara a fumar quando ela se fora, juntamente com o alcool e ,as vezes, outras drogas.
Não esqueceria o primeiro dia em que ele fumara a primeira vez, primeiro o alcool e depois o cigarro.
Era 15 de outubro, um dia depois do acidente.
O acidente.
Sentiu os morcegos em seu estômago voltarem e pensou que iria vomitar.O sorriso em seu rosto de esvaiu,fora trocado por um rosto triste, sentido e por lágrimas que escorriam de seus olhos.Aquelas lágrimas que sempre voltavam,não importava o quanto bebesse,ou fumasse ; não importava o quanto ele tentasse fugir da realidade de sua vida, as lágrimas sempre voltariam: ela não.
Enxugou as lágrimas com a manga da blusa, e pousou-se sobre as mãos apoiadas pelos cotovelos nas pernas.
Ela não voltaria.
Era 14 de outubro.Ele havia sido acordado com o toque do celular naquele dia, era ela dizendo que tinha uma supresa para o aniversário de namoro deles.
- Te pego as 19:00hrs ta bom?
- Mas, eu sou o homem, eu devia dirigir.
- Como se você não sabe pra onde iremos? Seu bobo. Coloque aquele perfume que eu gosto vio?Até a noite,te amo.
Então quando o relógio marcava quinze para as sete ele já estava pronto.Estava acima de tudo feliz.Eram sete horas, sete e quinze, sete e meia, e nada.Quando o telefone tocou era uma voz conhecida, ela a irmã de sua namorada: ela tivera um acidente de carro e havia sido levada em estado grave para o hospital.
Seu mundo despencava naquele momento.
E sem pensar em nada, pegou o carro e partiu para o hospital, queria noticias mais detalhadas de sua namorada, como ela estava? Ela ficaria bem, não ficaria? Por que aquilo estava acontecendo?
- Onde ela está?
- Na UTI. - disse o pai da garota desolado.
Não, não podia ser.
E quando deu-se por si , já corria pelos corredores do hospital a procura dela, as reclamações dos médicos e enfermeiros passavam despercebidas por seus ouvidos que só ouviam agora o seu impulso de encontrá-la.UTI lia-se na placa ao fim do corredor, e era para lá que ele corria agora.Estava fora de si demais para pensar no que estava fazendo ali,entrando daquela maneira.Então ele a vio.
- Amor Amor, o que aconteceu? - disse as lágrimas, não conseguia falar ao ve-la daquela maneira: machucada, com arranhões e queimaduras pelo corpo.
Ela o olhou, seus olhos cor de mel tentavam sorrir para ele e dizer que tudo ficaria bem, mas não era tão boa mentirosa assim.
- Você vai ficar bem ta bom? Você vai sair dessa, eu estou com você.
Sua voz era fraca,quase incompreensivel.Como se todas suas forças estivessem sendo destinadas aquelas palavras que diria, as ultimas forças e palavras:
- Não amor, eu é que estou com você.E estarei todos os dias da sua vida,mesmo que você não me veja.Eu prometo cuidar de você de onde eu estiver, mas você tem que prometer que será feliz, que viverá bem e não fará nenhuma besteira...
- Para de fal...
- Prometa!
- Está bem,eu serei feliz...
- Que bom. - e as palavras sairam acompanhadas de um pequeno sorriso, o máximo que ela consguiu. - Ouça: Eu te amo.Sempre te amei e sempre vou te amar, mas eu não preciso ser seu unico amor.Não se sinta culpado se um dia amar outra.Se isso acontecer, realize com ela todos os sonhos que tivemos juntos, todos os seus sonhos.E não pense em mim.Mas se tiver que pensar, ou for mais forte, lembre-se de mim como aquela flor que você colheu para mim no alto da árvore: foi bonita e viveu bem, mas teve que morrer, não por culpa sua, ou minha, ou de outra pessoa; mas porque era a hora.
Um ultimo sorriso, e um adeus.
[...]
Levantou-se do banco e jogou o que sobrara do cigarro em suas mãos.
Era hora de cumprir uma promessa.Ou pelo menos, tentar.


'Então, agora você se foi e eu estava errado,eu nunca soube o que era estar sozinho.'
 Valentine's Day - Linkin Park

Iza Costa

5 comentários:

KahDaniely disse...

Muiiiiitoo lindo.. tive uma experiência parecida e por isso choreiii muito :'(
Parabééns !

Unknown disse...

oomg, tá lindo. chorei D:

› Hєŋяiquє disse...

É Iza... Melhor que escreveu até,
Pelo menos dos que eu li, que foram poucos =X
Na verdade leio os que vc me mostra AUSHUAHSUHAS'
Mas vc é emo =X
Emo =X

Ally disse...

Lindo iza '-'
Cada dia mais seus textos ficam mais bonitos e com um toque pessoal que só você consegue ter.
Vc sabe que eu adoros seus textos =)
Te amo iza =*

Mila Xavier disse...

eu tbm choreei! tudo a ver comigo ;xx perfeito

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