sexta-feira, 14 de maio de 2010

O Inverno Part. 4 (Final)

O homem estava olhando-a animado; como se pressentisse novidades no ar.Sem mais agüentar, ele resolveu ser o primeiro a falar:
- Olá Liah, boa noite menina.
- Boa noite Senhor. – educadamente respondeu a garota.
- Então, virás comigo está noite?
A mesma pergunta.
Todas as aparições desse estranho homem sempre vinham acompanhadas da mesma pergunta: virás comigo? Liah se lembrava que, nos primeiros dias, ela dissera prontamente que não para o estranho. Não chegara nem mesmo a perguntar para onde, ou para que, apenas dissera bruscamente que não iria a lugar algum.Talvez por medo. Todavia, o medo havia se esvaído e, embora agora sentisse certa simpatia pelo homenzinho, ainda não havia feito essas mesmas perguntas. Para onde ele queria levá-la?
Contudo, hoje seria diferente.
Nos últimos dias ela, antes da chegada e depois da partida de Noah, se perguntava o que aquele desconhecido queria com ela, ou até mais que isso; por que não se lembrava dos momentos sem Noah? Onde ela passava todas as noites? E Noah? Algo lhe dizia que aquela estranha figura,agora em sua frente, tinha as respostas.E ela queria essas respostas.
- Senhor, diga-me, para onde queres me levar?
- Menina, aqui não é teu lugar.
- Claro que é – respondeu a garota irritada – não vê? Aqui tenho tudo que amo, e tudo que amo me ama! Aqui é meu lugar.
- Ingênua Liah, não vês? Este é somente o sonho que você inventou para refugiar-se dos males da vida, mas ele se tornou tão real dentro de ti, que quando teve a chance, criou vida própria e te roubou do mundo.
Pela primeira vez, Liah sentira medo verdadeiro do homem.Seria ele louco? Do que estava falando? Sonhos, realidade, invenção? Que bobagens! Ela sabia muito bem onde estava.
- Estas louco.
- Não, estou sóbrio.Por isso vejo muito além do que você vê, Liah. – respondeu-lhe sem se deixar abater pela ofensa da garota. – Olhe ao seu redor Liah, tudo isso,é tudo que você ama e queria. Mas nada é real.Guardamos memórias de sentimentos reais, o que você se lembra desde que chegou aqui?
Dessa vez o pânico a invadia; realmente ela não se lembrava de quase nada desde que chegara aquele lugar, desde que reencontrara Noah, desde que começara a ser feliz.
O homem de roxo sabia que ela estava perdida em pensamentos, totalmente confusa e quis ajudá-la.Sem que ela o contestasse ele prosseguiu:
- Venha comigo Liah, e te devolverei a seu mundo.
Num estalo, ela acordou de seus devaneios ao ouvir a voz do estranho.
- Meu mundo?
- Sim, pequena. A realidade.
- O que encontrarei lá?
- Dor, morte, saudade.
- Ora, por que eu iria para um lugar assim? – respondeu em tom levemente sarcástico.
- Porque esses são apenas os contras. Lá você também terá amor, família, e vida. Terá mais que dias frios e nublados de inverno, terá sol, chuva,e um céu estrelado. Além disso, terá memórias, e sentimentos mais complexos. Pessoas à esperam, Liah.
Família? Vida? Será isso que ela precisava? Uma coisa era certa; os últimos dias naquele lugar não haviam sido tão felizes. Noah, a neve...eram maravilhosos, mas faltava algo, e Liah não sabia o que. Talvez fosse isso? Aquele não era seu lugar? Sentiu-se tentada em dizer logo um ‘sim’, queria ir para essa tal realidade. Mas hesitou.
- E se eu não quiser? Se eu desejar ficar aqui para sempre?
- Se desejar isso, menina, virei ainda assim te visitar.
- Todos os dias?
- Todos os dias, até desistirem de você.
- Como assim?
- Você não entendeu não é? Isso – disse apontando para tudo que havia em sua volta – é a casa de sua alma. Você se nega a voltar para a realidade, mas ela não existe sem você. Quando as pessoas que te amam pararem de lutar por você,lutar pare que você volte, então não haverá motivo para que eu a visite.Sua alma viverá eternamente neste lugar.
- Entendi.
Apesar de confuso, ela realmente entendera. Não havia outra explicação para isso tudo. Ela tinha que decidir: ou ela voltaria a vida real, ou passaria todo o sempre naquele sonho. Mas ela gostava do sonho, gostava do frio, e gostava de ter Noah por perto.Porém, ‘toda a eternidade’ era tempo demais para se passar ali.
- Ainda terei Noah quando voltar?
- Talvez.
- Não pode me dizer com certeza?
- Liah, a realidade não lhe da certezas. Você é quem deve conquistá-las.
Um suspiro.
- Tudo bem, eu vou.
- Ótimo. – disse o velho tirando sua cartola e a cumprimentando pela sábia decisão. – Feche seus olhos, quando eu disser...
- Espera! – disse rapidamente Liah.
- O que foi? Não vai voltar atrás, não é? – respondeu o homem assustado com o grito da menina.
- Não, eu só queria fazer uma coisa antes...
Liah deitou-se na neve. Fechou os olhos, e realizou sua velha vontade: agora, com braços e pernas em movimento, a menina fazia um anjo no chão coberto por neve.

[...]

Suas mãos estavas prestes a segurar a maçaneta quando o garoto ouviu um barulho, era um dos aparelhos; apitava absurdamente e desesperadamente alto.Ele olhou rapidamente todos: era aquele ligado ao seu pulso que apitava, aquele que marcava seus batimentos cardíacos. Se aproximou da cama, olhou para a garota, e para o aparelho: estava subindo, o coração dela estava batendo mais rápido! Sem saber o que fazer, segurou-lhe a mão forte.
- Algum médico por favor! Aqui!
Seus olhos ainda estavam nela, as mãos unidas na única mão livre, e ele então viu: os olhos da garota agora se abriam lentamente, ela estava finalmente acordando.
Sua cabeça doía; seus braços estavam cheios de agulhas; sua vista embaçada e a garganta anormalmente dolorida e seca.Mesmo assim, ela teve forças para dizer baixinho e sufocadamente o nome dele:
- Noah...
- Sim Liah, eu estou aqui.
Noah tentou controlar a emoção, tentou controlar o sentimento que agora nascia no seu peito: felicidade. Ela estava viva, estava bem, havia acordado.Tudo iria melhorar. Mas era demais para ele agüentar, tinha que colocar aquilo para fora: deixou então as lágrimas escorrerem por seu rosto.Lágrimas,que agora, não eram mais de angustia, nem medo; eram alegria liquida.
- Obrigada.
- Pelo o que? – perguntou o menino confuso, não estava entendendo nada.Será que Liah estava delirando?
- Por ter lutado por mim. – respondeu com um leve sorriso.
As portas se abriram, Dr. Baker e a Sra. Kennedy entravam.
- Minha filha, eu sabia que você voltaria, ah meu amor...
Mas Liah não ouviu o resto.Estava distraída olhando atentamente o médico; ele lhe era estranhamente familiar.Havia visto ele em algum lugar,mas onde? Seus olhos, sua barba...Claro, era ele o homem da cartola  preta, era ele.Ela tinha certeza.Usava agora roupas brancas, diferente dos seus sonhos.Porém ela havia visto tantas vezes aquele homem que era impossível não reconhece-lo. O homem de roxo.


[...]

- Senhor Desconhecido, mais uma coisa, antes de eu ir, me diga, qual seu nome?
- Por que querer saber menina?
- Para lhe agradecer, gentil Senhor.
- Pois bem, pode me chamar de Vida.


Iza Costa

7 comentários:

@rayraduarte disse...

aaaaaaaaaah que legal *-* gostei mt iza, de verdade parabéns *o*

Anônimo disse...

muuito bom, perfeeito!

Anônimo disse...

Nossa, você é muito talentosa! , amei o texto , todos os dias entro aqui e sempre me encanto com suas palavras. Você está de parabéns Iza *_*

@jerssikavieira

Anônimo disse...

ficou peeerfeito! ameei.
//Juhhpoupe

Anônimo disse...

nooossa, muito, muito perfeito ! ameei ! parabeens Iza!

Francine disse...

Iza, MUITO lindo o final.
Parabéns, ótimo texto!

Anônimo disse...

PERFEITO!

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